Galerias fotográficas

Fotografia de campo e comentários sobre a vida quotidiana

O que se segue é uma exposição fotográfica baseada em comentários feitos em 2018 por aldeões que vivem da agricultura e da criação de gado nas montanhas da província do Namibe. Os aldeões, especialmente a minha anfitriã Madukilaxi, comentaram um álbum reunindo fotografias de três etnógrafos que fizeram fotografias de campo na região entre 1940 e 1995, combinadas com fotografias da vida na aldeia que fiz em 2012, durante uma estadia de 8 meses na mesma aldeia.

Inês Ponte 

Ovakay valima, ovilia viele.
Ombila yaloka, valima. Ovilia navalie. Vekute.
Ombila yaloka omañingi, ovilia vienda komande.
Ombila yaloka petupu, onğala.

Madukilaxi, 2018.

As mulheres estão a cultivar, o alimento virá.
Quando chove, é tempo de cultivar. Quando está seco, o alimento não nasce.
Quando chove bem, a água faz o alimento aparecer.
Se não houver chuva, haverá fome.

 
 
Madukilaxi, 2018.

No sentido do ponteiro do relógio a partir do topo esq: fotografia de campo arquivada, Inês Ponte 2012. Fotografia de campo arquivada, Ruy Duarte de Carvalho, 1992. Fotografia publicada por Carlos Estermann, 1970. Fotografia publicada por Carlos Estermann, 1972.  

Onomgombe buenda komande.
Onomgombe bunua omande komutemba.
Onomgombe bunua omande ononthinki ambuho.
Ovanthu paka omande komutemba. Ononthiki ambuho.

Madukilaxi, 2018.
 

O gado foi beber água.
Eles estão a beber água no tanque. [cima direita]
O gado bebe água todos os dias.
As pessoas têm de pôr água no tanque. Todos os dias.

Madukilaxi, 2018.

Sentido do ponteiro do relógio, topo esq: fotografia de campo arquivada, Ruy Duarte de Carvalho, 1993. Fotografia de campo arquivada, I. Ponte, 2012. Prova em arquivo de fotografia publicada por C. Estermann, 1960. 

Mostra de fotos na quinta: vida quotidiana, fotografia e efeitos da passagem do tempo no mato

Em 2012 vivi 8 meses numa aldeia de montanha na província do Namibe, como hospede de uma família agro-pastoril, na sua quinta. Antes de partir, ofereci-lhes cópias de fotografias que tinha tirado durante a estadia, obtidas em papel na cidade. Em 2018 voltei à aldeia, trazendo mais cópias – algumas das mesmas fotografias que eu lhes tinha dado anos antes. Os meus anfitriões tinham separado as fotos antigas em dois, entre marido e mulher. Para evitar repetições, pedi a cada um deles que me mostrasse as cópias anteriores. Madukilaxi, a minha anfitriã, adiou mostrá-las, até que revelou que em algum momento, por acidente, as suas cópias tinham apanhado chuva, e se tinham deteriorado.

O que se segue é uma exposição fotográfica baseada em duas sessões fotográficas em 2018, exposições temporárias na quinta. Mostrando ocasiões e tarefas diárias e especiais, a mostra também invoca a passagem do tempo. A exposição homenageia o estilo de vida dos meus anfitriões.

Madukilaxi e a sua filha mais nova, Lipuleni, depois de uma festa no vizinho. Foto original feita em 2012.

Kaundende a cozinhar otchihima [funge] para o jantar, cobrindo a ausência da sua mãe. Esq: 2018 nova cópia. Dir: Oferecida em 2012.

Os meus anfitriões vivem da produção doméstica, combinando agricultura de sequeiro com a criação de gado. A sua economia de subsistência exige um papel activo diário de todos os membros do agregado familiar para necessidades de curto ou longo prazo, de acordo com a estação do ano.

Ode a Madukilaxi. Fotos originais feitas em 2012, cópias em 2018.

Topo dir: Kaundende exibindo o seu novo colar de missangas que Madukilaxi lhe fez. Baixo esq: Omukipungo a fazer cerca. Baixo dir: as crianças brincam com Gaugenia, o seu irmão mais velho que veio de visita. Fotos originais feitas em 2012, uma cópia de 2012, restantes de 2018.

Ode à familia

Kavakundu olhando para o seu bebé recém nascido, Madukilaxi recolhendo feno para acrescentar aos telhados, Kabuka brincando com bonecas. Fotos originais feitas em 2012, cópias de 2018.

Durante a minha estadia, os meus anfitriões pediram para ter fotografias comigo. Omukipungo foi o fotógrafo escolhido.

Fotos originais feitas em 2012, uma cópia feita em 2012, restantes em 2018.

No início dos anos 90 Ruy Duarte de Carvalho, durante o seu trabalho de campo com comunidades pastoris Ovakuvale, fez mais de 1000 fotografias, repartidas por 40 rolos fotográficos, a preto e branco e a cores. No final da década, para uma das suas obras mais etnográficas, Vou Lá Visitar Pastores (1999), decidiu publicar algumas das suas imagens de campo. Imprimiu uma seleção intermédia, cerca de 109 imagens em alto contraste B&W em tom duplo, sem escala de cinza para usar como provas para a sua seleção final. Vou Lá Visitar Pastores tem 52 imagens.

Analisando a sua produção fotográfica, as provas e a publicação final, traçámos o processo de selecção de Carvalho. Aplicámos o resultado na seguinte mostra – uma edição gráfica e representativa de algumas das tiras fotográficas, onde assinalamos cada uma, fotografias arquivadas, provas escolhidas e imagens finais seleccionadas.