Fontes: Arquivos e Colecções

Para seguir o desenvolvimento da produção fotográfica de três etnógrafos com métodos e trabalhos de campo distintos, durante um período de cerca de 60 anos (1930s-1990s), usámos uma noção inclusiva de arquivo e colecção. A pesquisa sobre a produção fotográfica de cada etnógrafo raramente se cingiu a uma instituição contendo a totalidade da colecção. O único caso em que a colecção inteira estava num só arquivo, as fotografias estão combinadas com as de outros autores.   

  • Vestígios da produção fotográfica destes etnógrafos existem tanto em arquivos institucionais, como em museus ou legados pessoais. No caso de um dos etnógrafos, reconstruímos parcialmente a sua produção fotográfica de campo através de reproduções publicadas das suas imagens.

    Ao longo da pesquisa encontrámos assim diversas racionalidades arquivisticas, expressas nas formas de indexação, classificação ou catalogação seguida por diferentes instituições. Criámos assim várias “colecções” para agregar os múltiplos fragmentos que encontrámos referentes à relação entre fotografia e etnografia para cada um dos casos abordados, nestas diferentes fontes.     

     

    Os etnógrafos, as suas “colecções” fotográficas e os arquivos

    Carlos Estermann começou a fotografar no sudoeste de Angola na década de 1940, tendo passado do preto e branco para cores na década de 1970. A produção fotográfica de campo de Estermann está actualmente dispersa, sendo possível reconstruí-la em parte a partir de provas e publicações disponíveis em diferentes bibliotecas e arquivos institucionais (Portugal, Angola e EUA), nomeadamente:

    • Arquivo da Congregação do Espírito Santo, Província Portuguesa (APPCMES). A congregação do Espírito Santo tem a sua sede em França. O arquivo da província portuguesa da congregação situa-se em Lisboa e reúne algumas provas de fotografias de Estermann feitas no Sudoeste de Angola. Na sua biblioteca encontram-se exemplares de publicações missionárias, de cultura popular da época colonial e publicações científicas com artigos da autoria de Estermann, muitos dos quais com fotografias.
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    • O Smithsonian Institution. Com sede em Washington DC, EUA, alberga o arquivo do antropólogo Gordon Gibson (1915-2007). Gibson foi o primeiro curador de etnologia africana do Smithsonian (1958), e fez trabalho de campo na Namíbia  (entre 1952 e 1972). Ao trabalhar sobre pastores Ovahimba, Gibson viajou para Angola, onde conheceu Estermann, interessando-se pelo seu trabalho etnográfico. Gibson traduziu para inglês e editou a monografia em três volumes Etnografia do Sudoeste de Angola de Estermann. O Smithsonian reúne provas fotográficas a P&B da grande maioria das imagens que constam nessa publicação, à excepção de algumas imagens do terceiro volume.
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    • Museu Regional da Huíla. Estermann desenvolveu várias parcerias com intelectuais da região durante o longo período em que esteve no Sul de Angola, e principalmente após a sua ida para o Lubango (c. 1937). A década de 1950 foi um período muito produtivo para Estermann, então a escrever a sua monografia em 3 volumes e sendo amplamente solicitado por instituições locais, colaborando em várias exposições fotográficas que aconteceram na cidade.
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    António Carreira usou a fotografia no âmbito de 5 missões de recolha etnográfica que fez em Angola (1965-69) ao serviço do Museu de Etnologia do Ultramar, actual Museu Nacional de Etnologia. A sua produção fotográfica de campo foi inserida na colecção do arquivo sem separação por missão ou autor, e sim por local geográfico da missão. Carreira fotografou em 35 mm e em 6×6, a preto e branco e a cores (diapositivos). As imagens de campo produzidas por Carreira encontram-se no:

     

    • Museu Nacional de Etnologia. O acervo do Museu Nacional de Etnologia reúne objectos oriundos de diversas partes do mundo. As missões de recolha etnográfica organizadas pelo museu são uma parte substancial do seu acervo. A organização das imagens de Carreira corresponde à lógica deste arquivo e não à ordem da sua produção no contexto de campo.
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    Ruy Duarte de Carvalho usou a fotografia durante o seu trabalho de campo entre populações pastoras transumantes Ovakuvale na década de 1990. No final dessa década seleccionou um conjunto restrito de imagens, a partir das várias dezenas de rolos que fotografou. Optou por sujeitar essa selecção a um forte trabalho gráfico, de maneira a alterar significativamente a estética da fotografia de 35mm a cores, integrando-a no seu livro mais etnográfico Vou Lá Visitar Pastores (1997). No início dos anos 2000, Carvalho fez outras selecções das suas imagens de campo entre os Ovakuvale para algumas exposições sobre o seu trabalho, em Portugal. O seu espólio pessoal está depositado na:

     

    •  Fundação Mário Soares – Casa Comum. A plataforma Casa Comum disponibiliza a reprodução e descrição de documentos custodiados pela Fundação Mário Soares, assim como de documentação existente em outros arquivos, organizações e instituições parceiras. O fundo de Ruy Duarte de Carvalho, depositado na Fundação Mário Soares por seus filhos, Eva e Luhuna de Carvalho, reúne documentação de diferentes tipologias, que traduzem assim a sua personalidade multifacetada e a variedade de viagens, lugares de residência e de contactos que desenvolveu ao longo da vida.